CONSERVATORIO MUSICAL MOZART CONSERVATORIO MUSICAL MOZART
  Home Portal de Eventos Contato Quinta, 28 de Março de 2024.    
CURSOS
 
Música erudita
Música popular
Musicalização infantil
Teoria Musical
Formação para professores

    Musicalização Infantil
    Módulo I


    Musicalização Infantil
    Módulo II


    Música e Inclusão

    História, Estética e
    Crítica Musical


    As Cidades da Música
    Módulo I
Concursos e vestibulares
 
 
 
EVENTOS
 
Audições de alunos
Concertos e lançamentos
Masterclasses e Oficinas
Seminários
 
 
 
QUEM SOMOS
 
Nossa História
Diretoria
Secretaria
Professores
Calendário
 
 
 
MATERIAL DE APOIO
 
Biblioteca
Publicações
Materiais Didáticos
 
 
 
FALE CONOSCO
 
Cadastro
Contato
Trabalhe Conosco
 
 
 
CONSERVATÓRIO MUSICAL MOZART
Fones: (11)5668-8222 ou (11)95226-2195
Fax: (11)5668-8222
Rua Curumau, 22 - Interlagos
CEP: 04810-150
São Paulo - SP - Brasil
cmozart@cmozart.com.br

Mapa de localização do Conservatório Mozart
Mapa de localização


Visite-nos no Facebook Conservatorio Mozart no Facebook

Visite-nos no Twitter Conservatorio Mozart no Twitter


 
 
 
Home » Publicações » Música Erudita e Música Popular II




MÚSICA ERUDITA E MÚSICA POPULAR II

Sidney Molina


Tratemos de música popular sem preconceitos eruditos.

Muitos aceitam como música popular apenas a chamada música étnica. Isso, no entanto, esvazia o mundo da música popular de suas próprias técnicas de composição e interpretação. Música popular não é folclore, não é música dos índios brasileiros ou das tribos africanas. Da mesma forma que a música erudita, a música popular baseia-se em diversos ambientes sonoros para constituir uma reflexão musical própria. Ao contrário da música étnica - que não se configura em "obras" - a música popular é autoral e tem estilos específicos, que se manifestam em gravações e apresentações ao vivo. Se a música erudita não é "européia" em sua essência, a música popular também não é essencialmente "americana", nem "latina", nem "brasileira", nem "africana", nem "inglesa", apesar da força de importantes movimentos nascidos e desenvolvidos nesses lugares.

Outra crítica que músicos eruditos podem fazer à música popular é a preconceituosa equiparação entre "música popular" e "música de consumo". Em primeiro lugar, como vimos no artigo anterior, a música erudita também é consumida. Há, inclusive, muitos produtos artísticos de baixa qualidade no "mercado erudito". Em segundo lugar, cabe uma distinção entre a canção popular e a música instrumental popular: a música instrumental popular derivada do jazz não se identifica com a música de consumo há pelo menos cinco décadas, desde o bebop. O caso da canção popular, por seu turno, deve ser estudado com cuidado: até o início dos anos 80, no Brasil, a composição de canções não esteve atrelada apenas ao mundo do consumo imediato, mas foi um espaço privilegiado de manifestação artística. O existente não é a medida do possível. Pode haver experimentalismo na canção: dizer que as relações estabelecidas entre letra, melodia, harmonia e ritmo por autores como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Tom Jobim ou João Bosco não sejam o produto de um grau sofisticado de elaboração, de um consistente artesanato, é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Analogamente, o mundo do pop e do rock também tem deixado pérolas de significado artístico em meio ao mar do descartável. Basta saber procurá-las. Não sabemos se é por ignorância ou má fé que muitos músicos eruditos afirmam que a música popular se resume apenas ao que é veiculado por Gugu, Xuxa e Faustão.

A essência da música popular não se confunde com algumas de suas manifestações exteriores. Será que não podemos, também aqui, tentar definir a música popular a partir de características técnicas de sua construção?

Curiosamente, quando tomamos o projeto da música popular instrumental de origem jazzística, encontramos alguns aspectos complementares aos da música erudita. Assim como a escrita artesanal marca a música erudita, a improvisação do intérprete é a característica mais marcante do jazz. Jazz, para nós, aqui, não é um "estilo", mas uma tradição de desenvolvimento da linguagem popular instrumental. Jazz não é um "fenômeno americano", mas uma maneira de pensar e realizar música. Jazz pode incorporar a improvisação polifônica de New Orleans, a melodia acompanhada do swing, a especulação harmônica do bebop, o impressionismo cool, o atonalismo free e as fusions pós-modernas. Jazz pode usar ritmos latinos, brasileiros, orientais, africanos e europeus. Jazz pode usar o pop e o rock.

Jazz é, portanto, aqui, um processo que funda uma tradição de desenvolvimento da relação entre tema e improviso. Essa relação é essencial para a música popular que se constitui como um caminho autônomo para o músico de hoje.

Assim como variações eruditas escritas sobre um tema popular, os chorus de improvisação sobre um standard podem buscar relações profundas com o tema, podem revelá-lo sob aspectos inesperados.

Ainda há, no entanto, um preconceito a ser desmontado: muitas vezes, o músico erudito não consegue perceber as relações estruturais do improviso com o tema. O improviso é muitas vezes entendido como uma espécie de virtuosismo vazio e inconseqüente. Não é isso, no entanto, que ouvimos nos bons improvisadores: independentemente do estilo, a boa improvisação traz relações, traz idéias. Há uma estrutura na improvisação da música popular que complementa o improviso na escrita da música erudita.

Muitas comparações podem advir dessa visão mais abrangente e processual de jazz e música erudita: eu e o músico Sérgio Molina desenvolvemos, há alguns anos - apenas para citar um exemplo entre vários possíveis -, um curso de história da música onde os períodos da música erudita eram comparados passo a passo com os estilos do jazz. Esse curso transformou-se, posteriormente, numa série de programas transmitidos pela Rádio Cultura FM ("A Escrita e o Swing: um concerto em jam session").

Outra conclusão que podemos extrair de nossa busca pela identidade da música popular e da música erudita e pela diferença entre ambas é que os preconceitos são mútuos, tanto do popular ao erudito quanto do erudito ao popular. Nesse caso - a exemplo dos diálogos socráticos - admitir não saber o que é música erudita ou música popular é o primeiro passo para o amadurecimento da reflexão.

De qualquer modo, independentemente da especialidade de cada músico - nem todos nós seremos Guldas, Jarretts, Coreas, Marsalis ou Gismontis - não podemos nos dar ao luxo de desprezar experiências sonoras propostas por 50% das músicas de qualidade para sustentar preconceitos estúpidos: temos de aprender a ouvir música erudita e música popular.


© CONSERVATÓRIO MUSICAL MOZART - todos os direitos reservados
Reprodução permitida desde que citada a fonte e o autor


© Conservatório Musical Mozart webdesigners: Vitor Gomiero e Elisabete Gomiero